INTERPRETAR OS SINAIS
Sábado, 20 de Junho de 2020

Hoje acordei e vi uma postagem falando sobre a possibilidade da justiça conceder para a pessoa o DIREITO DE TER O NOME DE DOIS PAIS NA CERIDÃO DE NASCIMENTO. Já vou explicando desde logo que sou a favor. Claro, isso existe no dia a dia, a JUSTIÇA SÓ CABE LEGALIZAR, estas relações que já são cotidianas. E lembrando que não deveria ser da Justiça esta atribuição, sim pois a justiça cabe tão somente o papel de FAZER CUMPRIR NORMAS que servem para a sociedade ter equilíbrio e condições de convivência comunitária. Este papel caberia ao CONGRESSO NACIONAL, que infelizmente em nosso país está mais preocupado em esconder corrupção, defender empresários e Igrejas que garantem sua eleição, e garantem assim aquela vida boa que é uma das melhores senão a melhor do mundo. SER POLÍTICO NO BRASIL.
Se alguém esta lendo este texto e achando confuso, já vai entender o motivo desta mistura, pois na minha concepção, sociedade nada mais é que uma mistura de SERES VIVOS, que vão ocupar o mesmo espaço e por isso devem sim ter normas e regras, mas não MAIS normas e regras que foram criadas nos primórdios da humanidade, pois como todo ser vivo está em evolução, e tudo que nos rodeia ou nos norteia precisa acompanhar esta evolução. Outro sinal que no Brasil está andando de ré é que aqui não evoluímos e sim regredimos. E para complicar um pouco mais esta mistura, vou dizer algo que muitos jovens deveriam aprender logo e não no futuro, AGRADECER seus professores de Literatura e Português, eu vou agradecer aqui aos meus da ESCOLA NORMAL E GINÁSIO ESPÍRITO SANTO, DE TRÊS PASSOS, sim obrigado por exigirem UMA FICHA DE LEITURA SEMANAL, pois foi o que até hoje é base concreta da minha formação, pois conjugar verbos, decorar regras também é importante, mas com a evolução, era digital, menos do que INTERPRETAR, pois não aprendemos com isso interpretar somente o que os outros escrevem, aprendemos interpretar a vida, a sociedade, e isso nos salva de em pleno século XXI, achar que a terra é plana, ou acreditar que Jesus sentaria em uma Goiabeira ou que teríamos uma mamadeira de piroca. Misturamos novamente, mas já, já vamos clarear.

Vamos falar da importância da interpretação, por exemplo interpretar hoje o livro da Hannah Aredt, a BANALIDADE DO MAL, livro este que todos deveria ler, mas não ler para parecerem intelectuais ou se tornarem seres isolados do mundo, pois acham que o conhecimento que possuem os torna MELHORES que os outros, não, aí eles só leram ou decoraram partes, é preciso INTERPRETAR, e não interpretar o que ela disse referindo-se a banalização do mal que ocorreu nos sistemas de governo totalitários ou no nazismo. Mas e hoje como banalizamos o mal? Será que banalizamos somente quando aceitamos que negros morrem nas periferias, mulheres são espancadas dentro de suas casas, filhas são violadas por quem deveria protege-las, e tantos outros exemplos desta violência social diária. Na minha humilde opinião não, este tipo de violência já é resultado da banalização do verdadeiro mal, daquele que alicerça a violência física, que é resultado e não base. E outro fato que precisamos entender e interpretar é que tudo é uma questão de interpretar, o que muda é se as pessoas interpretam para um BEM COLETIVO, ou para seu BENEFÍCIO. Um exemplo disso esta no fato de que podem ter certeza que aquelas pessoas que são vistas como MODELOS a serem seguidos, TODAS, leram, conhecem e interpretam grandes homens, grandes filósofos, sociólogos e personalidades em geral, a única diferença é que ao invés de interpretar para realmente construir uma sociedade melhor, que é o que move todos eles, de JESUS A PAULO FREIRE sim, pois tirando a questão religiosa quem lê os evangelhos com a mente aberta percebe que o maior desejo contido nas mensagens e palavras Dele são de uma sociedade mais justa e igualitária, e não de fieis cegos a ponto de treparem em uma goiabeira. E por isto por estas mensagens estarem tão claramente disponíveis para quem lê e interpreta é que os que já leram mas gostam da posição de controle, de submissão, de superioridade usam estas mesmas mensagens para manter a maioria dos seres vivos na posição de SUBMISSÃO, de simples ferramentas para garantir o privilégio de meia dúzia. Em palavras cotidianas podemos dizer: “FARIAM O TRABALHADOR ENTENDER QUE NÃO TEM NADA QUE AGRADECER O PRATO DE FEIJÃO DE SUA MESA AO PATRÃO, POIS É GRAÇAS AO SEU TRABALHO QUE O PATRÃO LHE DEU O PRATO DE FEIJÃO, ENQUANTO AOS SEUS SERVIU FILÉ, FILÉ ESTE PRODUZIDO E CONQUISTADO COM O TRABALHO DO EMPREGADO”.

Voltando ao que me levou a fazer esta reflexão, eu tenho dois filhos gerados em meu ventre, são os tesouros de minha vida, mas não é por ter este amor infinito por ele que significa que são meus únicos filhos, não, tenho muitos filhos espalhados pelo mundo, alguns já são adultos, mas são meus filhos, no verdadeiro sentido da palavra. Eu dei a eles meu amor, sempre que possível minha proteção, orientação e carinho. Ou seja cumpri o que dizem as normas sociais do que deve ser o papel de um pai, neste sentido regredimos muito, quando limitamos por questões irrelevantes a responsabilidade de ser PAI E MÃE em uma sociedade, em algumas sociedades primitivas sabemos que o cuidar, o proteger, orientar e acarinhar pertencia a COMUNIDADE como um todo e novamente no meu ponto de vista é o ideal, pois se assim fosse não viveríamos em um país onde existem “Bernardos”, “Izabelas”, ”Rafaeis”, não existiriam meninas violadas por pais biológicos. Se o casamento entre duas pessoas não fosse normatizado por pessoas que o fizeram a centenas de anos quando o contexto era outro, não teríamos tantas mulheres mortas por quem deveria ser companheiro e parceiro, não teríamos tantos pessoas machucadas por se sentirem traídas ou violadas por simplesmente cumprirem estas regras e não por viverem de forma harmoniosa e feliz que por sinal viver feliz é contagiante, o maior efeito da felicidade é justamente a harmonia, e uma pessoa que é assim dificilmente fará ou causara qualquer efeito maléfico em um conjunto social, em uma comunidade, pois estará preocupada em manter sua felicidade e dispersa-la para o maior número de pessoas possíveis. Se ainda não persistissem pessoas que pensam serem melhores que os negros, asiáticos ou qualquer outra nacionalidade não teríamos o racismo, neste ponto alguém já se perguntou o motivo que produziu o racismo no primeiro europeu? Quem sabe INTERPRETE a situação lá, a centenas de anos, a sociedade europeia evoluiu, como qualquer outra, muitas pessoas liam as obras de seus GRANDES FILÓSOFOS, viam as obras de arte de seus ARTISTAS, mulheres fedidas, com um lindo cinto de castidade garantindo sua propriedade genital ao marido, e este cinto coberto com um belíssimo vestido bordado a mão. E aí de repente com uma caravela chegaram na África, e se depararam com pessoas, nuas, algumas tribos homens negros, altos, fortes rodeados por dez ESPOSAS, todas com vestimentas coloridas e sem o tal cinto de castidade, pois é obvio que se uma africana usasse, espartilho, cinto de castidade, vinte saias de armação, mais um pesado tecido bordado morreria antes dos vinte anos de desidratação já que o CLIMA é totalmente diferente nos dois continentes, ao Brasil, e se depararam com índias nuas, com penas coloridas cobrindo seus corpo. Ai, chegam na América, e encontram mulheres nuas, com a pele exposta ao sol agradável, quem sabe se banhando nas águas tranquilas e mornas dos nossos mares, comendo frutas deliciosas e não precisando enfrentar gelo e neve para cassar cervos, javalis com armas rudimentares, onde muitas vezes o chefe da família morria e não retornava para abrir o tal cinto de castidade. E aí? Conseguiram acompanhar a interpretação? Será que nestas sociedades não existia ARTE, CIÊNCIA, BELEZA? Ou será que os que chegaram não interpretaram nada e só DECIDIRAM que o que CONHECIAM era o correto, era a única interpretação e possibilidade de ser sociedade? Será que aquelas crianças indígenas que eram filhas biológicas de alguém mas aprendiam e obedeciam mais ao ancião do que ao seu progenitor dentro do contexto que vivemos não teriam já elas dois pais?

E ai, entramos na banalização do mal dos nossos tempos, tempos de amizades rápidas, liberdades conquistadas, de globalização, de relações supérfluas e virtuais. Será que não estamos banalizando o mal de uma forma mais egoísta, mais simples? Conheço um grande professor. Pedrinho Guareschi, se me pedirem assim de supetão uma obra dele, vou pesquisar, sei do que falam, sei da importância delas, mas não decorei, eu absorvi, eu interpretei o que ele falou já que tive o privilégio de estar como aprendiz em sua presença. E o que aprendi com ele que vou carregar para sempre é “não acredite em tudo que digo, pesquise, pense, construa”.... e é isso que espero quando escrevo, não quero nada mais do que se possível fazer alguém refletir, interpretar o que vive. Então tudo aqui é minha opinião, e esta opinião é de que, quando não temos coragem de defender um homossexual, no seu direito de escolher um parceiro para a vida, para seu dia a dia, quando não defendemos um negro, um indígena, quando permitimos que alguém fale na nossa frente coisas do tipo “os índios gostam de ser branco na hora de ganhar bolsa família”, ou quando decidimos que o melhor é uma criança não dormir mais na casa dos amiguinhos para não correr o risco de ser violada, quando dizemos que “mulher gosta de apanhar”, quando julgamos que uma mulher que se depila não é defensora do feminismo, quando permitimos que alguém ironize a relação entre um homem e uma mulher por que um dos dois é casado, ou quando alguém incentive o sentimento de posse de outro ser humano mesmo que seja através da exigência de reações frente a instituição casamento, paternidade, parentesco, amizade, quando olhamos os outros com o olhar igual ao que os marinheiros europeus olharam os africanos, asiáticos e indígenas, e para os que só interpretam cegamente baseados no que padres e pastores falam, eu digo, olhar com o mesmo olhar que os romanos olharam Jesus, eu penso que estamos banalizando o mal, continuamos banalizando o mal pois são estas atitudes, de achar que somos melhores que os outros, que o que nos foi passado como herança de sociedade é superior a sociedade Cubana, Venezuelana, Chinesa, Finlandesa, alemã, italiana que faz da sociedade um lugar perigoso de se viver, que produz na sociedade pessoas que acham melhor proibir uma criança de dormir nos amigos para não ser violada, do que falar sobre os sinais que um violador provoca. Ou ainda tem quem acredite que não existem sinais em um homofóbico, em um estuprador, em um pai assassino, em um marido que espanca mulher?

Se ainda acreditamos que não existam estes sinais, é porque não aprendemos INTERPRETAR NADA, ou porque decidimos como sociedade simplesmente BANALIZAR O MAL, no ato consumado e não o assumirmos a culpa do mal nas nossas ações diárias de fingir que não percebemos estes sinais. Dizer que dormimos com a consciência tranquila as vezes também é uma forma de banalizar o mal, pois é só acreditar e defender que o indivíduo que diz que não se meter em relações familiares, que diz que se todos fazem eu também posso fazer seja a forma correta, pronto, não teremos a consciência pesada. Diferentemente de interpretar, de analisar o quanto as nossas atitudes podem trazer bem ou mal no grupo que vivemos, interpretar e analisar que não podemos viver isolados. E que fique claro, que defendo a liberdade sem limite, mas defendo que está liberdade vá até onde comece a do outro, e um exemplo deste meu pensar, é que não sou contra os EUA por exemplo, não desejo e nem me refiro a eles como o MAU, pois acho que eles tem o DIREITO de viver como quiserem dentro de seu país, de seu território, cabe a população americana decidir em sua casa como e o que fazer, MAS eles não tem o direito de espalhar para o mundo, e alimentar o ódio, o preconceito contra a sociedade Cubana ou Venezuelana. Precisamos interpretar os sinais, a vida, a cultura sem resquícios de egoísmo, de prepotência de acreditarmos que somos melhores que os outros, ou que somos conhecedores da verdade. Quem sabe desta forma, vamos aprender a valorizar mais o SENTIMENTO AMOR, do que define um papel sobre a relação entre um homem e uma mulher, entre dois homens, entre um pai e um filho, entre um amigo, entre duas mulheres. Vamos deixar de acreditar que a violência se consiste somente no ato de bater, violar, matar, ela começa no momento em que fingimos não perceber e INTERPRETAR os SINAIS.
Fonte: Clarice Inês Mainardi - Diretora de Formação- FEMERGS
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